O avanço lento no plantio da soja no Paraná, pela falta de chuvas neste início de temporada, provoca o maior atraso dos últimos cinco anos na largada da semeadura da oleaginosa. Até a semana passada, apenas 8% da área projetada com soja no Estado, um avanço semanal de apenas 5%, segundo dados do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura e Abastecimento (Seab) do Paraná.

Para se ter ideia, nessa mesma época, no ano passado, os produtores tinham semeado 22% da área estimada, enquanto em 2018, quando os trabalhos foram historicamente avançados, o total era de 38%, conforme números do Deral.

A preocupação para a soja, por ora, está mais relacionada à época de colheita, uma vez que o atraso no plantio deve empurrar o início das operações das colheitadeiras mais para frente, justamente em momento em que o mercado brasileiro lida com escassez do produto e preços recordes da oleaginosa.

Conforme o chefe do Núcleo Regional da Seab de Toledo, Paulo Salesse, a área de 8% que já recebeu o plantio pertence a regiões onde houve registro de chuva, mesmo que em pouca quantidade. “Em nossa região, trabalhamos com a mínima de 2% a 3% de áreas já cultivadas, confiando nas chuvas que virão”, expôs ao O Presente.

Segundo ele, os produtores do Oeste do Paraná são conscientes e técnicos, o que favorece na tomada de decisão sobre o momento do plantio. “Os agricultores buscam intensamente informações nos órgãos especializados para garantir um bom plantio e, consequentemente, uma boa safra. Nesse momento de estiagem, contudo, não há muito mais o que fazer além de ser paciente”, considera.

Com a primeira quinzena de outubro praticamente finalizada, Salesse afirma que o atraso ainda não é grande. “Em nosso ver, ainda estamos dentro do prazo. É um atraso quase normal. O que preocupa é o plantio da segunda safra do milho, porque a janela pode ficar um pouco apertada”, pondera.

PLANTIO A SECO

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Uma das alternativas para não “estourar” os prazos do plantio é realizar a prática a seco. “Se o solo não tem umidade suficiente para efetuar o plantio, o agricultor pode buscar fontes meteorológicas confiáveis que apontem chuva logo em seguida ao seu plantio. O sol está muito quente e a temperatura do solo está alta, há muita insolação e a semente cultivada a seco corre o risco de se perder de dois a quatro dias se não chover. Deve-se ter cuidado, porque pode não haver semente disponível no mercado para um possível replantio”, alerta o chefe do Núcleo Regional da Seab.

RISCO ALTO

Na opinião do engenheiro agrônomo Cristiano da Cunha, da Agrícola Horizonte, fazer o plantio baseado em previsões é de risco altíssimo ao produtor. “O risco deve ser calculado, porque pode trazer perdas muito significativas para o potencial produtivo da lavoura e, o que é pior, pode levar a um replantio. Ao plantar se baseando nas previsões, a semente fica no solo seco, vai perdendo o seu potencial de germinação, lida com altas temperaturas, passando até dos 50oC, o que inviabiliza a semente. Se as chuvas demorarem para vir, pode ser perdido 100% do poder de germinação da semente, ou seja, sendo necessário o replantio dessa área”, ressalta.

Ele destaca que mesmo com boas previsões meteorológicas é preciso se atentar à metodologia utilizada. “São baseadas em modelos numéricos, não é algo garantido”, frisa.
O engenheiro agrônomo calcula que chuvas entre 30 e 40 milímetros já propiciariam um bom plantio, desde que viessem outras na sequência.

TEMPO MÁXIMO

Para não comprometer a próxima safra, Cunha avalia que o plantio deveria acontecer até, no máximo, 25 a 30 de outubro. “Se olhar hoje para as variedades de soja, a maioria delas tem um ciclo aproximado de 120 dias, ou seja, se o agricultor fizer o plantio no dia 25 de outubro, essa safra de soja vai emergir no início de novembro e entraremos em março de 2021 com ela ainda na lavoura; portanto, fora do zoneamento agrícola da safrinha”, expõe.

Ao comparar prazos, o engenheiro agrônomo lembra que na última safrinha também houve atraso no plantio. “Os agricultores que plantaram milho dentro do mês de março, entre os dias 10 e 15, tiveram uma safrinha promissora, porém, vale considerar que foi um ano sem geada e isso permitiu que o milho se desenvolvesse e tivesse uma produtividade considerada boa”, pontua, emendando que isso não é regra: “Podemos ter geadas severas e no caso do plantio do milho safrinha no mês de março, essas geadas podem comprometer severamente a produção”.

POTENCIAL PRODUTIVO

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Cunha menciona que a falta de chuva de agora não está propiciando ao agricultor plantar, todavia, quando as chuvas retornarem e o agricultor entrar com o plantio em condições boas de umidade do solo, o potencial produtivo dessas lavouras se mantém. “Salvo, lógico, um novo evento de seca que possa ocorrer futuramente. Não ocorrendo seca futura, todo o potencial produtivo da lavoura permanece”, evidencia.

Uma boa produtividade, aponta ele, começa desde o plantio. “Em condições adequadas, com uma boa semente que será depositada em um local adequado, com capricho. Para o agricultor ter isso, é preciso de umidade no solo”, finaliza.

QUANTO MAIS O TEMPO PASSA E A CHUVA NÃO CHEGA, A PREOCUPAÇÃO AUMENTA

Operadores da bolsa de Chicago citaram, na semana passada, a seca na América do Sul como fator de alta para os preços da soja, que atingiram naquele mercado o maior valor desde maio de 2018.

“Alguns produtores plantaram no pó, arriscaram, mas é muito pouco. De maneira geral, conversando com técnicos do Oeste do Paraná, por exemplo, o produtor da região de Toledo está cauteloso e esperando chuva para plantar”, comenta o economista do Deral, Marcelo Garrido. “Acho que vai ficar nesse compasso de espera até ter previsão mais consistente de chuvas”, acrescenta.

Em sua última projeção, o Deral estimou a safra de soja do Paraná em 20,4 milhões de toneladas, 1% a menos do que o registrado em 2019/2020, devido a um possível recuo na produtividade.

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Garrido menciona que o atraso preocupa mais em função da janela ideal para o plantio do milho, semeado após a colheita da oleaginosa, uma vez que “outubro ainda é o melhor mês para plantar soja e historicamente a produtividade é maior”, dado que lavouras costumam se beneficiar da posterior regularização das chuvas.

O Paraná é o segundo produtor nacional de soja e também o segundo de milho, atrás do Mato Grosso.

“Mas é claro que, quanto mais o tempo passa e a chuva não chega, a preocupação fica maior”, ressalta.

SINAL AMARELO

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O especialista em milho do Deral, Edmar Gervásio, diz que neste momento o sinal é “amarelo” para o produtor de milho (segunda safra). “Não cruzamos o vermelho”, salienta.

O plantio do cereal vai até março no Paraná. Mas algumas regiões, pelo zoneamento, podem plantar até fevereiro, como é o caso do Oeste do Estado”, aponta.

Quanto mais o plantio de milho se atrasa, maiores as chances de a lavoura eventualmente ser atingida por geadas ou períodos secos, com a proximidade do inverno.

Na região Norte, a principal produtora, o plantio de milho vai até março.

Em geral, produtores que têm seguro rural ou usam financiamentos precisam respeitar o zoneamento climático de plantio.

Fonte: O PRESENTE