O estudo coordenado pela Embrapa, analisou e cruzou dados de 50 municípios e resultou em um calendário de cultivo para diminuir riscos de estresses hídricos associados a perdas na produção agrícola em anos de El Niño e La Niña.

Para reduzir riscos climáticos na produção de grãos no Brasil, pesquisadores latino-americanos, incluindo os da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), utilizaram tecnologia big data para compreender melhor os efeitos dos eventos de El Niño e La Niña na variabilidade da distribuição das chuvas em várias áreas agrícolas do país.

O estudo analisou e cruzou dados de precipitação diária de 50 estações meteorológicas do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). As estações estão localizadas em municípios dos estados de Rondônia, Mato Grosso, Goiás e Tocantins, responsáveis por 39% da produção de grãos no país.

As informações também foram associadas a outros dados da Agência Nacional de Águas do Brasil (ANA) e da agência de Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA), através de ferramentas tecnológicas computacionais que analisam grandes volumes de dados, com rapidez e agilidade.

Um dos objetivos do estudo foi avaliar os impactos dos fenômenos El Niño e La Niña sobre a dinâmica da estação chuvosa para os cultivos de grãos, soja, milho e arroz nas regiões onde a pesquisa foi realizada.

Atualmente o Oceano Pacífico Equatorial está na fase de La Niña, que é parte do fenômeno atmosférico, denominado El Niño Oscilação Sul (Enos). O Enos refere-se às situações nas quais o Oceano Pacífico Equatorial está mais quente (El Niño) ou mais frio (La Niña) do que a média normal histórica.

O estudo considerou os eventos de Enos e de anos com condições neutras no oceano, para estabelecer a dinâmica da estação chuvosa no verão nas áreas de estudo. Isso foi realizado a partir da definição de datas de início e fim das chuvas, quantidade total de precipitação pluviométrica, duração da estação chuvosa e número de dias secos e úmidos dentro desse período.

A partir dessas determinações, os pesquisadores estimaram também a disponibilidade de água presente no solo para a realização da semeadura nas localidades estudadas e relacioná-la às necessidades hídricas de cultivos ao longo de todo o ciclo produtivo.

O resultado foi aprimorar os calendários de cultivo já existentes e desenvolver opções estratégicas de gestão do período de semeadura, a fim de diminuir riscos de estresse hídrico que acarretem perdas na produção, segundo Alexandre Heinemann, pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão.

Segundo Heinemann, a segunda safra é a mais afetada pelos eventos de El Niño e La Niña. As rotações de soja e milho comuns em Mato Grosso, Rondônia e regiões de Goiás, trazem risco de perda por falta de água durante a fase de enchimento de grãos.

Novo calendário para cultivo de grãos

Geralmente, o início do período chuvoso e da semeadura da safra de verão vai de fins de setembro a começo de novembro. Contudo, de acordo com a pesquisa, pode haver a necessidade de ajustes, conforme a ocorrência de El Niño e La Niña.

De acordo com o estudo, no município de Alta Floresta (MT), a fase inicial, ótima e final para semeadura sofreram alteração. O início da semeadura pode ser feito mais cedo em anos que ocorre El Niño e La Niña, em comparação aos anos neutros. Além disso, em anos com El Niño, a janela de semeadura é menor (entre os dias 26 e 30 de outubro), ao passo que, em anos com La Niña, a semeadura pode ser estendida até meados de novembro (dias 16 a 20).

Esse trabalho realizado em Rondônia, Mato Grosso, Goiás e Tocantins também pode ser expandido a outros estados brasileiros e regiões de cultivo. Além de ser útil para melhorar a tomada de decisão de agricultores, governos, seguradoras, indústrias de insumos e outros segmentos envolvidos na produção agrícola.

Futuramente, essa pesquisa deverá estar conectada a sistemas de assistência técnica rural que auxiliam os produtores a diminuir potenciais riscos às lavouras, informou Heinemann.

FONTE- Site tempo.com