A cultura da melancia passa a contar com Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para todas as regiões do Brasil. Isso significa que dados sobre probabilidades de sucesso baseados em informações climáticas e nas características regionais estarão disponíveis para interessados em investir nessa cultura nas cinco regiões brasileiras. Os acervos do Zarc embasam análises atuariais e de concessão de crédito agrícola, dando segurança às instituições de seguro rural e bancárias e facilitando acesso do produtor a esses produtos financeiros. Até então, apenas três estados contavam com o Zarc para a melancia, Mato Grosso do Sul, Bahia e Rio Grande do Sul, e todos voltados a sistemas de sequeiro.

O trabalho envolveu o desenvolvimento de dois modelos de Zarc para condições diferentes de manejo: para a cultura de sequeiro e para a irrigada. Os cientistas verificaram que a irrigação é uma atividade relevante para o sucesso e segurança do negócio. “A irrigação deve ser vista com bons olhos, pois diminui muito os riscos de perdas na cultura da melancia,” afirma o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste Carlos Ricardo Fietz, coordenador dos trabalhos do Zarc da melancia. Esse dado, segundo ele, implica impactos relevantes no planejamento do investimento na cultura.
Fietz salienta que esse estudo trará um importante avanço ao cultivo de melancia no País. “Até então, os Estados que são grandes produtores de melancia, como o Rio Grande do Norte (maior produtor nacional), São Paulo, Goiás e Tocantins não tinham Zarc. Por meio dessa pesquisa, esses e outros 

Estados agora o contam com o zoneamento, tanto para a cultura de sequeiro quanto para a produção irrigada,” comemora o pesquisador. Por correr menores riscos, o produtor que investir em irrigação, poderá, por exemplo, contar com melhores condições de crédito junto aos bancos. O cientista lembra que o Zarc é utilizado por instituições financeiras de todo o País para subsidiar tecnicamente as análises de crédito e seguro rural.

“Ao todo foram geradas 66 novas portarias para o Zarc da melancia. Seis Estados (RS, SC, PR, SP, MG e MS) contam com quatro recomendações, que levam em consideração três diferentes variáveis de condições climáticas (clima quente, ameno ou frio), nos dois sistemas produtivos de sequeiro ou irrigado,” detalha Fietz. 

O gestor de Desenvolvimento Rural da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural de Mato Grosso do Sul (Agraer), Emerson Farias Bispo, enfatiza a importância do Zarc da melancia para o crescimento e fortalecimento da cultura. Segundo ele, a área cultivada em Eldorado (MS) deve aumentar em 37%, chegando a 600 hectares na safra 2021. “A grande vantagem é que, com a cultura zoneada, os produtores podem obter financiamento e aderir ao Proagro, o que possibilita uma compensação em caso de perdas, reduzindo os riscos dos produtores,” esclarece Bispo.

Ele acredita que com o tempo a área cultivada com melancia na região deve ir aumentando, pois os produtores podem investir mais em tecnologia e aumentar as áreas de plantio, que já chegou a totalizar cerca de mil hectares no município. Bispo também elogiou os modelos para sequeiro e para cultura irrigada. “Isso permite que os produtores possam aumentar de área plantada, pois contam com recursos financiados e com juros mais baixos, contribuindo com aumento da área de cultivo e melhorando o manejo cultural,” analisa. 

Hidrata e é rica em potássio

A melancia é originária da África. É uma fruta saborosa, muito apreciada especialmente pelas crianças, visto que possuí um belo contraste de cores. É um alimento saudável, refrescante e hidratante (contém cerca de 90% de água), perfeita para os dias de calor intenso. Sua polpa rica em potássio, sais minerais e vitaminas. Pertence à mesma família da abóbora e do melão. É uma planta rasteira, com folhas grandes e flores pequenas, de cor amarela. Seu ponto de colheita varia em função do tipo de cultivar e das condições climáticas. Normalmente, esse período corresponde entre 65 e 75 dias após o plantio.

Além das Unidades da Embrapa envolvidas no processo, os resultados do Zarc que foram apresentados aos produtores e validados ao longo dos últimos dias são fruto de parcerias com outras instituições. Fietz informa que, para realizar esse trabalho, foi firmado um convênio entre a Embrapa, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e o Banco Central do Brasil (BCB). “A Embrapa está realizando a revisão das recomendações, em média, de onze culturas por ano,” frisa o cientista. 

O pesquisador da Embrapa Éder Comunello lembra que zoneamentos mais antigos recomendavam a semeadura somente em períodos com riscos de perda menores que 20% e explica que os novos zoneamentos trabalham com três níveis de risco: 20%, 30% e 40%. Os três principais fatores de risco para a cultura da melancia levam em conta deficiência hídrica, geada e chuva no período da colheita. O nível de risco apresentado no Zarc está associado a maior limitação de um desses fatores.

O chefe-geral da Embrapa Agropecuária Oeste, Harley Nonato de Oliveira enfatiza a parceria com os produtores na validação do zoneamento. O trabalho reuniu produtores, pesquisadores, extensionistas rurais e autoridades governamentais envolvidas com o agronegócio, nas localidades de cada reunião e foi todo realizado por meio de reuniões on-line. Ele salienta ainda a importância dos investimentos na construção de dois novos lisímetros, equipamentos que medem o consumo hídrico das culturas no campo. Segundo ele, esses equipamentos vão possibilitar um aperfeiçoamento ainda maior do Zarc.
 
A produção mundial de melancia

Dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), mostram que China, Irã, Turquia e Brasil são os maiores produtores mundiais de melancia, juntos respondem por 75% da produção. Em todo o mundo são produzidas cerca de 118 milhões de toneladas da fruta. Os principais países importadores são Estados Unidos, Alemanha, Canadá, China e França, que acumularam em 2018, mais de 50% das importações mundiais. No entanto, os maiores países exportadores da fruta não são os seus maiores produtores, nesse ranking, a Espanha está na primeira colocação, seguida por Irã, México, Itália e Estados Unidos.

Dados da AgroStat Brasil, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) demonstram que em 2020, os embarques de melancia no país somaram US$ 44,3 milhões, com 107,8 mil toneladas da fruta, representando 4,5% das exportações de frutas do Brasil. 

A produção brasileira de melancia corresponde a 105.064 hectares de área colhida e produção de 2,3 milhões de toneladas. As principais regiões produtoras de melancia do país são o Nordeste e o Sul, que contribuem, respectivamente, com 35% e 18% do total da produção nacional. A região Sudeste responde por 14% da produção nacional. 

No Tocantins, a melancia também representa um importante papel para e economia local. O período da safra da melancia naquela região, pois geram cerca de 3 mil empregos. Além disso, dados da Secretaria do Estado da Agricultura, Pecuária e Aquicultura do Tocantins (Seagro/TO), revelam que em 2020, os produtores conseguiram bons preços pelo quilo da fruta, chegando a uma média de R$ 0,60 em alguns períodos da colheita.

Em Mato Grosso do Sul, dados da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar de Mato Grosso do Sul (Semagro), revelam que em 2019, foram cultivados 1.224 hectares de melancia, resultando em uma produção de 22.359 toneladas. A fruta foi cultivada em 39 municípios, sendo Eldorado, Santa Rita do Pardo e Naviraí os maiores produtores estaduais. 

O secretário de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar de Mato Grosso do Sul, Jaime Elias Verruck, relata que o Zarc promove maior garantia, mais segurança e redução de riscos para os produtores, pois possibilita minimizar os impactos negativos do clima sobre as culturas. “O conhecimento técnico da Embrapa, com apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e da Semagro na realização das atividades de campo, viabilizou essa validação para todos os municípios do estado, trazendo ainda mais segurança no momento do uso do Proagro e ProAgro +,” declara informando que o governo estadual pretende incentivar a ampliação da cultura.

O Superintendente do Senar/MS, Lucas Galvan, destaca a eficácia do trabalho em meio a um período difícil. “A construção dos indicadores que servem de referência para a cultura da melancia no Estado começou em maio de 2019, e ao longo desse período, mesmo com a pandemia, todo o calendário proposto foi cumprido por todas as instituições envolvidas”. 

Aguinaldo dos Santos (Léo), prefeito de Eldorado, município conhecido como capital estadual da melancia, é um entusiasta da cultura. “A colheita da melancia gera emprego e renda no município e o Zarc é importante para que os produtores possam produzir cada vez mais, de forma segura e produtiva”. 

O superintendente do Mapa em Mato Grosso do Sul, Celso Martins, informa o Zarc da melancia abre caminhos para a pauta de indicação geográfica de Eldorado. “O selo de indicação geográfica da melancia de Eldorado avançou e deverá tornar-se uma realidade nos próximos anos,” acredita. 

Além da Embrapa Agropecuária Oeste, outras quatro Unidades também participaram dessa atividade de revisão e expansão do Zarc: Embrapa Informática Agropecuária (SP), Embrapa Uva e Vinho (RS), Embrapa Meio-Norte (PI) e Embrapa Pesca e Aquicultura (TO).

Em Mato Grosso do Sul os parceiros do Zarc da melancia foram: Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e a Prefeitura Municipal de Eldorado.
 
 Fonte- Revista Cultivar.